Olho pela janela e saudoso lembro do tempo em que as pessoas sabiam conversar.
Algumas, as julgadas eruditas, sabiam até mesmo ler e escrever.
Fascinantes histórias eram contadas, enchiam-se páginas e mais páginas com pequenos símbolos negros, com os quais o poeta exorcizava sua alma, e gentilmente nos dava toda sua agonia.
Sentados, junto ao fogo nas noites frias, nas varandas sombreadas nos dias quentes, em volta da comida na maioria das vezes, amigos narravam seus dias, seus sonhos, suas desilusões e pequenas vitórias que tornavam suportáveis suas vidas tacanhas.
Vizinhas valiam-se das janelas para fiscalizar as vidas alheias e as fofocas pulavam de casa em casa e os pequenos escândalos privados tornavam-se públicos.
Até mesmo as crianças tagarelavam seus faz-de-conta e suas mirabolantes idéias de mundos fantásticos e irreais aos obtusos olhos dos adultos.
Infelizmente as palavras acabaram, foram gastas, estão hibernando.
Ouvi falar que ainda há umas cinco ou seis que sobreviveram refugiadas em uma mente louca, onde estão tentando se juntar e formar um pequeno poema, bem barulhento, que acorde as outras.
Infelizmente não estão achando uma rima.
B.M.P.